sábado, 27 de junho de 2015

E tudo começou com um bêbado deitado na BR

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Um veículo para na UOP e nos avisa: tem um bêbado no quilômetro X deitado na BR. Pergunto: ele está vivo ou já foi atropelado? Vivo, ele responde!

Corremos eu e minha equipe (mais um policial) para atender à chamada. Chegamos ao quilômetro informado uns 15 minutos depois do aviso do usuário, e o cara estava simplesmente deitado no meio da faixa. Carros desviavam e, se fosse à noite, ele já estaria em pedaços, como um bicho esmagado no chão. Ele estava com o nariz inchado e sangrando, e alegava que tinham batido nele. Foi quando sua mulher, do nada, apareceu por lá. E é quando a história começa a mudar seu rumo.

Ela pediu para darmos carona a ele até em casa, uns 20km de distância. Eu falei que não, que precisaríamos levá-lo ao hospital para ver aqueles ferimentos. Ela falou que não teria dinheiro para voltar com ele do hospital, pois só tinha R$ 10 e o retorno custaria R$ 20. A equipe fez uma cotinha e completamos a passagem de volta. Entramos todos na viatura e fomos em direção ao hospital. A viagem duraria uns 20 minutos, estávamos próximos a uma cidadezinha daqui.

E na viagem fomos conversando com ele e a esposa, que nos relatou que ele batia nela. Pensei: empurro ele da viatura em movimento? Seria melhor tê-lo deixado na BR pra passarem por cima? As duas opções me pareciam bem legais. Eu simplesmente não consigo aceitar homem que bate em mulher. Inclusive minha vontade era de lhe dar mais um soco no nariz.

Ainda durante a viagem o cara manda, aos xingamentos, a mulher ligar para o patrão dele. Quando eu não aguento e interfiro, pela primeira vez, como policial, mandando-o calar a boca e perguntando: você acha que está falando com quem, fil** da put*. É tua mulher, respeite. Até então estávamos tratando ambos como vítima. Agora minha vontade ela levá-o à delegacia. Que caia o nariz dele, vamos à delegacia!

Porém a esposa não quis ir. Levamos ao hospital. Falamos para ela que caso ele a agredisse novamente, para ela ir no posto que a gente o prenderia, mas ela disse que não tinha dinheiro para ir até lá, que algumas vezes ela dormiu no mato, porque ele expulsou ela e a filha de casa, bêbado. E aí você simplesmente se vê impotente, sem saber o que fazer. E tive que me retirar, para não chorar em frente a todos. Porque é muito triste ver a situação daquela família. E eu até consigo atender um acidente com vítimas fatais sem me abalar tanto. A pessoa já morreu, não há nada que eu possa fazer e não existe agonia. Mas quando a gente se sente frustrado por não poder ajudar, isso dói demais.

E o que começou com o relato de um bebum deitado na BR, terminou com um policial, armado com uma ponto 40, colete balístico e uma submetralhadora, simplesmente sem saber o que fazer, chorando feito uma criança diante de tamanha sensação de impotência.