quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Bônus e ônus da profissão policial

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O policial rodoviário federal Alexsandro Lamarck Duarte Oliveira faleceu em um acidente de trânsito registrado por volta das 15h deste sábado na altura do km 243 da BR-290, em Eldorado do Sul.

Quando eu comecei a estudar para o concurso da Polícia Federal, muito pouco eu entendia dos perigos inerentes à profissão policial. Eu só lembrava das coisas boas: distintivo e operações policiais eram o sonho. Ter a moral de agir em situações que só em dizer "Polícia Federal" já resolveria, também era um sonho.

Porém ser policial não são só sonhos. Existem os pesadelos também. E eles são duros e cobram seu preço. E a gente, quando passa nesses concursos e começa a conhecer muitos policiais, começa também a saber de tudo, ou quase tudo, que acontece no meio policial pelo Brasil afora. Ainda mais com o artifício do Whatsapp (zapzap para os íntimos), que faz com que as notícias corram quase da velocidade da luz, com direito a fotos e vídeos dos acontecimentos quase que ao vivo!

O primeiro susto que levei foi quando um policial civil, aqui do meu estado, morreu baleado no peito durante uma operação não tão bem sucedida assim (tudo filmado). Prenderam os meliantes, mas houve uma baixa do lado amigo. Isso me fez começar a pensar muito a respeito do assunto "perigo de ser policial". Eu já havia passado nos concursos da PF e PRF, e sabia que assumir um dos dois seria questão de tempo. Ficar no meu emprego atual de escritório ou ir pra rua correr riscos?

Até então eu nada sabia da PRF. Não conhecia nenhum PRF e pensava que os "guardas" nem corriam tantos riscos. Ser PM e Civil que era perigoso, pois tratavam direto com a bandidagem. E PF nem se fala, muito raro morrer PF em operação, pensei.

E então vieram as demais etapas (pós prova objetiva) dos dois concursos (PF e PRF) e depois o curso de formação da PRF. Conheci muita gente de ambas as polícias. Fiz muitos amigos. Participo de muitos grupos do Whatsapp. E então as notícias boas e ruins começaram a chegar:

Durante o curso de formação da Rodoviária Federal ficamos sabendo que um PRF de 2012 havia perdido o braço em um acidente com viatura. Traficantes jogaram uma pedra na rodovia causando o acidente. Novinho.

Porém, só nessa semana que passou aconteceram vários incidentes com PRFs que me deixaram assustado receoso.

1 - Um policial morto em acidente de viatura quando voltava de operação. Viatura aquaplanou, atravessou a via e deu de frente com um caminhão.

2 - Um caminhão, para empreender fuga, bateu na viatura, ferindo levemente um policial e lesionando a coluna do outro.

3 - Um instrutor da academia de polícia, ao abordar um carro, levou dois tiros: um no colete, outro no olho esquerdo. Está vivo por muita sorte, porém perdeu a visão do olho.

Três casos em menos de 7 dias. Fora um outro acidente ocorrido há mais ou menos um mês quando um policial morreu ao bater o caminhão da PRF em um outro que estava parado às margens da rodovia. Provavelmente dormiu ao volante voltando cansado para o posto após 24h de plantão. Digam-me se esses números não assustariam você!

Já nos diziam na academia: morre mais Policial Rodoviário Federal atropelado e de acidente de viatura do que de arma de fogo.

E será que mesmo assim vale a pena ser polícia? Correr esses riscos todos mesmo sem ter nenhum reconhecimento da sociedade vale realmente a pena? E, para responder a essas perguntas, eu faço outras: e eu vou fazer o que da minha vida, se ser policial é meu sonho e é pelo que eu acho que realmente vale a pena viver?

O melhor que podemos fazer como policiais é treinar, treinar e treinar. Tentar ser o melhor que se pode e melhorar sempre. Não poupar esforços para que nenhum tipo de incidente aconteça. Já diziam os instrutores: não vá além dos seus limites, saiba perder.

Se com todos esses cuidados já há muitas baixas, imagina sem! Ainda ecoa na minha mente a voz de uma instrutora: "Senhores, saibam perder, saibam perder. Umas a gente perde, mas depois a gente ganha"! E de um outro instrutor: "Vai morrer aluno, assim o senhor vai morrer"!

11 comentários:

  1. Acidentes acontecem, PRF do Norte. E em muitos casos são fatalidades, mesmo. Porém, o difícil é você ter que aceitar que um colega seu morreu porque alguém não fez direito o seu mister.

    No caso das viaturas, por exemplo, existem procedimentos de segurança tão importantes quanto aqueles que a gente faz numa entrada em edificação. A imprudência, a imperícia e negligência também mata muitos policiais.

    A começar na academia. É muita responsabilidade ser professor de curso de formação policial.

    Que Deus nos proteja e guarde até de nós mesmos.

    Um beijinho!

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    1. Pois é novinha, esse é o nosso ônus né!
      Temos que conviver com ele, não tem jeito. Mas podemos limitá-lo ao máximo com muito treinamento e prudência!!

      Na PRF a abordagem é normalmente feita em dois policiais. Algumas vezes em 3. Inclusive quando forem vários suspeitos ou meliantes de fato. Sem treinamento adequado não teria como, concorda?

      Mudando de assunto: você sabe qual foi a banca escolhida pela PF? Disseram-me que o edital sai sexta. Será???

      Beijos.

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  2. Os riscos nas estradas são mesmo enormes aos PRFs.

    É interessante ficar de ouvidos abertos aos "bizus" dos antigões. Tem muito detalhe que conta demais no dia a dia e só se aprende na prática, a " olho nu".

    Cito um dos mais ouvidos por aqueles que ingressam: "Nunca acredite que o carro/caminhão vai parar "só" porque você ordenou". Portanto, muito cuidado - atropelamentos sérios (ou casos ainda mais drásticos) podem ocorrer se não houver cautela, cautela e cautela.

    E cautela, significa: ter cuidado em você e ter atenção às ações do seu parceiro/grupo. Nem sempre uma boa ação depende apenas de nós mesmos, mas do conjunto como um todo. Portanto, atenção maximum level.


    Tenha uma excelente semana, PRF do Norte!

    Spartanski

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    1. Spartanski, cautela é sempre bom. O grande problema é o vacilo que se dá quando se está confiante demais. Isso que não pode ocorrer: excesso de confiança!

      Atenção Maximum level é o que deve ser feito. Mas imagina isso após 24h de trabalho? Isso me preocupa um pouco, e olha que eu durmo 5 ou 6h por noite geralmente e consigo ficar 24h acordado sem problema nenhum, mas todos nós sabemos que não dá pra exigir toda nossa habilidade após tanto tempo sem descansar, né?

      A maioria dos acidentes de viatura/carro, segundo informações da academia, ocorrem quando o PRF está voltando para o posto/casa após o plantão. Quando ele já está mais relaxado e o nível de adrenalina já abaixou. O PRF dorme de cansaço e aí já viu, né! :(

      Excelente semana para você também.

      Beijinhos.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Sem dúvida o trabalho de PRF é muito mais perigoso que o de PF. E, como a novinha falou, imprudencia mata muitos policiais.
    Como bem dito pelo instrutor, tem que aprender a perder. O bandido vai continuar sendo bandido e uma hora ou outra o pegamos. Difícil é lembrar disso na hora e perder uma prisão é sempre frustrante, mas a nossa vida e a da equipe acima de tudo. Nossa família precisa da gente.
    No mais, boa sorte no concurso de APF. Que tudo de certo e, em uma instituição ou em outra, que em breve voce possa ser mais um federal para nos ajudar a combater a bandidagem nesse país!
    Um abraço!

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    1. Estaremos juntos em breve!
      Como está sendo a primeira impressão da PF?

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    2. Cara, PF to achando bacana. Escrivão sabe como é, não tem aquela ação toda (salvo alguns lugares, como Ponta Porã) e acaba ficando muito preso ao delegado. Mas em linhas gerais estou bastante satisfeito. Lembrando que temos pouco mais de um mes, acho que uma opinião bem formada mesmo só depois de 1 ou 2 anos.
      Um abraço e boa sorte!

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    3. "?!" fiquei curioso para saber sua opinião hoje, após 5 anos desse comentário... Você ainda está por aí? Fui aprovado para EPF e PRF, estou lendo bastante sobre as carreiras para tomar a melhor decisão possível para meu futuro profissional. Grande abraço!

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    4. Matheus, tá ai uma decisão difícil de tomar. Mas vou te falar um pouco sobre a profissão de escriba: Cartório. Você vai ser responsável por dar andamento nos inquéritos. Algumas vezes vai poder desviar, ficar fazendo análise ou até mesmo atividades de Agente. Mas quando for pra operações em 99% das vezes você fará as atividades de escrivão. Então assim, depende muito do perfil. Mas tanto escrivão como agente viajam bastante em missão. Essa pra mim é a parte boa.

      PRF: Tua atividade vai ser abordar veículos. Procurar infrações de trânsito e crimes. Atender acidentes. Ajudar usuários das rodovias. Dependendo da cidade, muitos acidentes, poucos crimes. Ou muito dos dois. Depende demais. O trabalho é cansativo sim. Normalmente na escala de 24h por 72h. Pode ficar na parte administrativa também, mas aí já é trabalho relativo a adm mesmo. Licitação, RH, etc.

      A diferença salarial é de 2 mil reais mais ou menos, do escrivão para o PRF.

      Espero ter ajudado minimamente.

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  5. Sou eletricista e morrem muito mais gente na minha profissão que PRF e PF juntas só não é divulgado.
    PRF ai vou eu.

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